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Mas afinal o que é isso da PARENTALIDADE POSITIVA E CONSCIENTE?

Olá, estimo que estejas bem! 

Se conheces ou tens acompanhado de alguma forma o meu trabalho, sabes que sou uma defensora da educação e parentalidade positiva e consciente. E tenho verificado que nem sempre o entendimento acerca destes dois termos é o mesmo, por isso hoje quero falar-te sobre o que quero dizer com estes termos.

Parece-me que há por aí muitos mitos sobre o que isto da parentalidade positiva e consciente significa. Então vou começar exatamente por aí.

O que não é parentalidade positiva nem consciente:

 – Achar que vai correr tudo bem ou dizer aos filhos que está sempre tudo bem. Por exemplo, o teu filho está ansioso com o teste de matemática que tem na próxima semana. Dizeres-lhe que vai correr bem de certeza não significa que exerças uma parentalidade positiva, significa apenas que estás a tentar incutir esperança ou confiança num resultado futuro. 

– Ver as coisas pela positiva, ou preferir ver o copo meio cheio em vez de ver o copo meio vazio. Não tenho nada a opor a manteres e cultivares uma atitude otimista em ti e nos teus filhos, mas a parentalidade positiva nada tem a ver com isso.

– Dares a volta aos teus filhos com estratégias e ferramentas, para os levar a fazeres o que queres. Isso são outros quinhentos, como dizem, mas a parentalidade positiva e consciente não tem como objetivo a alteração do comportamento da criança. 

– Teres tudo sob controlo o tempo todo, tendo filhos que não fazem birras, não sofrem e têm uma grande autoestima. Pois, isso até pode ser um sonho muito comum – quem não gostaria de ter filhos felizes e colaborantes o tempo todo? Acho que os ingleses chamam a isto “wishful thinking”, que é um pensamento que traduz um desejo, mas também uma ilusão… lamento, mas a parentalidade e educação positiva e consciente também não é isso…

– Deixar que a criança faça o que quer, não entrando em conflito com ela. A isso podes chamar permissividade, mas nada tem a ver com a parentalidade positiva nem consciente.

– Achar que isto da educação positiva e consciente é uma moda ou modernice. Na realidade, os primórdios desta filosofia educativa já remontam ao século XVIII, pela filosofia educativa de Rosseau, e continuaram com outros pedagogos tais como Dewey, Montessori e Nelsen…

Como vejo a parentalidade positiva e consciente?

Na minha perspetiva, a parentalidade e educação positiva e consciente é uma filosofia educativa, que se traduz numa forma de educar, cujos pressupostos base são o respeito mútuo e o igual valor, tendo por base as ferramentas da disciplina positiva, o cultivo da consciência e atenção plena e do amor incondicional, numa atitude de aceitação, presença e não-violência.

Ou seja, ela inclui os princípios fundamentais inerentes à disciplina positiva, tais como o respeito mútuo e a não violência, recorrendo também ao cultivo da atenção plena ou Mindfulness, o que lhe dá o nome de “consciente”, recorrendo para isso a ferramentas formais e informais que permitem desenvolver nos educadores as atitudes referentes à consciência plena (lê mais sobre este assunto neste artigo, disponível aqui).

Então quais são os pilares ou princípios da parentalidade positiva e consciente?

Embora possas encontrar diferentes classificações e orientações na literatura acerca destes princípios, faz-me muito sentido destacar quatro grandes pontos ou pilares que têm de estar presentes quando se trata de promover a parentalidade com base na disciplina positiva e na consciência plena ou mindfulness, que partilho contigo aqui de forma híper reduzida (acredita que poderíamos trocar ideias sobre cada um durante horas).

1 – Respeito mútuo ou igual valor

As necessidades da criança valem tanto quanto as do adulto. Isto não significa que vais satisfazer todos os desejos – isso seria permissividade – mas sim que vais assumir responsabilidade pelas tuas necessidades enquanto educador/a e vais reconhecer e ajudar a criança a assumir responsabilidade pelas suas necessidades (e acredita que há uma grande diferença entre necessidades e desejos). 

2 – Vínculo ou Conexão

A relação que assumes com a criança é a base para conseguires exercer uma parentalidade ou educação livre de estratégias que usam o castigo, a recompensa e a manipulação como principais ferramentas.  Quando tens uma relação de vinculação segura com a criança, aumentas e muito a probabilidade de que ela queira colaborar contigo e te veja como um líder que ela quer seguir, e não como um adulto que ela teme. Por outro lado, esta conexão também está a funcionar para o teu lado, fazendo com que te sintas mais seguro/a sobre as escolhas educativas que fazes a todo o momento – não dá para desligar o interruptor quando se trata de educar, pois não? E isso também vai contribuir para que te sintas mais competente, o que por sua vez funciona como modelo também para a criança. É o que se costuma dizer “uma pescadinha de rabo na boca”, não é?

3 – Responsabilidade Pessoal

Enquanto não consegues identificar em ti quais são as tuas necessidades, sentimentos e pensamentos acerca das situações em que te encontras, tenderás a não assumir responsabilidade pessoal sobre as mesmas, o que por outro lado, poderá funcionar como “a voz interna” que te autoriza a castigar, a punir ou culpar os outros pelo que te acontece. Por outro lado, quando aprendes a assumir responsabilidade pessoal sobre o que se passa contigo, não só ganhas imenso em termos de poder ou competência para lidares com os desafios e dificuldades que surgem (e se conheceres desafio maior do que educar uma criança, por favor conta-me qual é), como ainda estás a modelar essa competência na criança que estás a educar. Agora, imagina o benefício que é para o mundo – é apenas o principal para educares para a paz, livre de violência. Assumir responsabilidade pessoal vai-te permitir desenvolver (em ti e na tua criança) duas ferramentas fundamentais: a comunicação consciente ou não violenta e a inteligência emocional. Agora imagina como seria um mundo em que os conflitos (que são inevitáveis e inerentes à condição humana e social) são resolvidos por esta via… 

4 – Proatividade e Liderança

Em vez de te preocupares em seres obedecido/a, que é capaz de te levar por um caminho em que faz muito sentido que o teu foco seja modificares o comportamento da criança que educas, aceita o desafio de Gandhi e sê tu a mudança que queres ver no mundo. Ou seja, foca-te em ti, no líder que queres ser, na forma como queres ser visto/a e recordado/a pela tua criança, e dá o exemplo. E faz isso de forma proativa, assumindo-te como alguém que está para orientar e acompanhar, e não para ter uma relação em que um manda e outro obedece, sem lugar a questionamento. Claro que por vezes dá muito jeito sermos obedecidos, mas se pensarmos um pouco sobre as consequências da obediência cega, só porque sim, só por ser à autoridade, vamos encontrar imensas histórias de horror, abuso e violência de vários tipos, que estou certa que não terás interesse nenhum de que a tua criança seja vítima. 

E pronto, é só isto. É simples, mas no dia-a-dia em que somos engolidos pelos afazeres e pelo piloto automático, é tão fácil fazer o oposto a isto tudo, e quando damos por ela, lá estamos nós a ameaçar com palmadas, gritos ou castigos, e a manipular com recompensas… e é por isso que embora seja simples na sua essência, o exercício da parentalidade e educação positiva e consciente exija de nós uma perseverança, energia, autoconhecimento e consciência de nós mesmos notáveis. Para mim, tem sido a maior (e melhor) viagem de desenvolvimento pessoal que eu alguma vez fiz.  E para ti? Como está a ser esta missão de educar alguém?

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